Brunhoso, 05 de Junho de 2009
Amigo Antóino
Há quase 30 anos que te fuste da nossa terra, mas só houje soube do teu paradeiro e resulbi escreber-te duas letras.
Num sei nada da tua bida, mas espero que fiques cuntente por saberes que Brunhoso segue bibo, mas já nada é alegre cumo antes. Lembras-te das nossas brincadeiras da escola? A professora Josefina não era amiga de brincadeiras e num achaba ninhuma graça quando chigábamos atrasados por termos ido espreitar um ninho de marigacho nos lameiros de Cinzas. Habia sempre um bufarinheiro que nos acusaba. Nem quando le trouxemos um bô ramo-de-raposa, nos perdoou. A régua entrou na baila, e, tantas lebei eu, como tu. Num adiantaba espingardar.
Nas tardes de Primabera, quando nos juntábamos no adro da igreja, jogábamos ao fito, ao espiche e à bilharda. Mas rápido binha o Berão, cheio de canseiras. Nunca fui muito co’as segadas, mas lá que habia boas merendas, habia. Logo pela fresca só s’oubiam os carros de bois a chiar, pesados da carreija. Inté sabia quando intrabam no arrouço antes de chigarem às eiras de baixo. Num nos faltaba que fazer mas mal podíamos c’ua benda. Bô era quando nos cabia fazer chigar a cabaça a todos. A ceitoura era pesada p’ra nossa idade mas os garotos d’agora só sabem matraquilhar num tal Magalhães, um cumputador que les deu o goberno.
Mas, nos Domingos, era difrente. Ficábamos cheios de nobe horas, todos pimpões, quando nos chigábamos perto das moças. Num bou cusquilhar agora, mas ficábas todo impachado quando chigaba a Elbira do ti Toino Espalha. Num te posso continuar a falar destas coisas senão inda bais fazer caçoada de mim.
Tinhas que ber Brunhoso agora, num parece a mesma terra! Já num há carros nem bois, nem segada, nem carreija, nem malhada. Num há bacas nos lameiros, nem castanheiros na Serra. Nem ó menos há garotos, c’mo nós, a brincar nas ruas. Todos ficam nas suas casas ou bão ó café. Agora há dois cá na terra! Têm cerbeija, bilhares, e telebisão cum centos de programas do mundo todo. As ruas estão limpinhas, com paralelos até à Malhada. Tamém já não há pitas nem canhonas p’rás sujarem.
Temos um campo de futebol moderno que le chamam polidesportivo. Cumu já num há munta gente, fizeram um campo piqueno, mas, olha qu’às bezes inté têm de bir cá os de Paradela ou os de Remondes, p’rá haber duas equipas!
Tens que cá bir na festa do Berão. Bêem muntos emigrantes da França e da Espanha e há bailarico três noites a eito. D’algum tempo p’ra cá inté têm bindo alguns emigrantes do Brasil, só tu é que nunca cá boltaste! Num acredito qu’aí tamém te façam guisote, ou rascas, ou comas umas mouçós com meia remeia de binho. Essas coisas só sabem bem na nossa terra.
Sabes, aqui tamém nem tudo bai bem. Bê lá tu que querem inundar o Cachão! Limbraram-se de fazer uma barraige, lá p’ra baixo, perto do Felgar e querem pôr o nosso rio Sabor mais parado que o mar morto. Inda há pouco tempo que lá fui e ficaram-se-me lá os olhos de pena. Já num há alcaforros no Poio, parece que até os escouparões desapareceram! Querem tirar-nos as olibeiras. Logo agora que temos bôs caminhos e que chigamos à Barca enquanto o dianho esfrega um olho. Sabes, até já fazem passêios ao rio, bê lá tu! Juntam-se ós bandos e bão por aí abaixo, e olha que bêem de fora p´ra conhecer o no Crasto, o Poio e o Canelo! Até fizeram qualquer coisa na Intarnet, até o Chico Zé já me biu na França! Acho que le chamam um Blogue, tu num conheces isso?
Tinha tantas coisas p’ra te diser que salto dumas p’rás outras... deixa de ser somítico e bem mas é até cá. Tenho uma tãlha de azeitonas bem boas curadas cum cinza à tua espera.
Ficas a deber-me uma resposta.
Um abraço deste teu amigo que nunca te esquece.
Zé Manel da Preta
notas: 1- Este texto integra a blogagem colectiva do blogue "A Aldeia da Minha Vida", onde poderão ser apreciadas e votadas outras participações. A votação decorre exclusivamente naquele blogue e basta deixar um comentário identificado.
2 - Para saber o significado de algum "palabrão" mais estranho, visitar a recolha de vocabulário feita na Página Web de Brunhoso.
7 comentários:
Muito obrigada pela sua visita.
Excelente a forma como descreveu a sua aldeia. Muito criativa e bem-humorada (um autêntico transmontano a falar!!!).
Parabéns e boa sorte.
Muito original a apresentação da sua aldeia, e espectaculares as fotos.
Também não conheço Brunhoso, valha a verdade que tirando as aldeias de onde meus pais são naturais, não conheço muitas aldeias. Verdade que quando vamos passear sempre escolhemos vilas ou cidades. Entre as que conheço (mal) está a de Sortelha, Piodão, e Avô. Mas claro que de passagem.
Um abraço, boa sorte e obrigada pela visita.
Parabéns pelo texto elaborado, embora fictício, é muito próximo da realidade de Brunhoso. Abraços.
Parecia que estava ao Balcão da nossa linda terra de Brunhoso e que estavas a dar-nos conta da carta que tinhas mandado ao António, teu praça com toda a certeza e emigrou para o Brasil, se fosse para a França, vinha cá nas férias do Verão.
Para quem possa estranhar a grafia, devo lembrar que em Brunhoso é assim que se fala, já que a nosso língua fica nos arrabaldes da língua mirandesa.
Muitos parabéns1
António Magalhães
A abordagem da tua aldeia foi muito original!Pena não estar postada a resposta a essa belissima carta.
Fiquei com muita curiosidade para conhecer esa bela aldeia.
Parabéns e obrigada por participar nesta blogagem.
A votação começa amanhã, dia 10 e acaba dia 28 de Junho no blogue da aldeia da minha vida.
Aproveito para esclarecer ainda que:
Para votar, poderá faze-lo amanhã deixando um comentário ao texto que considerar o melhor.
Um comentário transforma-se num voto.
Até amanhã!
Bjs Susana
Amigo
Tem aqui um belo blog.
É bom sabermos que estamos colectivamente a participar na blogagem colectiva “A Aldeia da Minha Vida” e assim a contribuir para a divulgação do nosso País.
Parabéns pelo seu texto original.
A partir de agora estarei atento ao seu blog.
Um abração
Castela
Não me apresentei quando escrevi o comentário. Desculpe!
Castela
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