quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Brunhoso à luz da candeia

Naquele tempo a autoridade não se discutia. Era Deus no céu e Salazar em Lisboa. O Presidente da Câmara era um Doutor rico e importante (jà o pai dele tinha sido) que estava lá por ser amigo dos dois anteriores e cuja missão era só zelar pelo seu respeito. Em Brunhoso havia um Presidente da Junta que administrava sem reclamações, embora as calçadas das ruas estivessem cada vez mais esburacadas, os caminhos da ladeira eram carreiros, não havia saneamento, nem electividade, água havia nas bicas e nas fontes. Os indígenas nunca tinham conhecido melhor ou já não se lembravam e as autoridades distantes e omnipotentes não admitiam protestos. Havia um regedor que tal como o Presidente da Junta nada fazia, pois as pessoas eram pacificas e resolviam os pequenos choques e divergências entre eles, por vezes à lambada e ao pontapé. O padre Zé era a autoridade religiosa e a única que mostrava algum serviço. Fazia os baptizados, casamentos e funerais sem cobrar nada por isso. Era um homem bom, rico, teimoso e virtuoso, vivia rodeado de 3 ou 4 mulheres e nunca se lhe conheceu filho algum. Rezava as missas, a que era obrigatório assistir aos domingos, sob pena de pecado mortal, ou de se ser apelidado de protestante ou comunista, o que para o povo eram a mesma coisa. Homens à frente mulheres atrás, todos cumpriam a sua obrigação, com mais devoção as mulheres pois habitualmente só elas comungavam ( as mulheres foram sempre mais pecadoras). O padre Zé além de dar o dinheiro dos responsos aos rapazes que o ajudavam à missa, dava cigarros a muitos homens, a alguns passou-lhes o vício (era no tempo em que o tabaco não fazia mal às pessoas). A autoridade máxima dos garotos era a professora, imponente,competente e altiva, ensinou-lhes a matemática, a gramática, a geografia e as vénias do zalazarismo. Brunhoso vivia em paz, miséria (quase todos) e harmonia, pelo menos desde à 500 anos atrás, pois que conste as Invasões Francesas não passaram por lá. Até ao Entrudo! A procissão ainda vai no adro e o Jacob leva o estandarte maior!

Texto escrito por Zamit no Fórum da página web Brunhoso.
Fotografia tirada no dia 25-12-2007, numa casa antiga na Malhada.

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